
O meme imita a vida: eu não sabia que precisava de uma nova temporada de “The L Word” até que comecei a assistir “Generation Q” e começar a morrer de amores.
Se um dia critiquei “The L Word”, não lembro. Hoje essa série é tudo para mim e pode contar comigo sempre que precisar.
Ok, vou parar de usar essas gírias jovens só para dizer que diferente de mim a série soube se atualizar. Pra falar a verdade, quando eu vi o primeiro episódio me deu um leve bode, porque as protagonistas Bette, Alice e Shane continuam muito ricas bem sucedidas e poderosíssimas. E isso sempre joga uma certa ideia de representatividade lá pras alturas do inalcançável. É como se de alguma forma, elas fossem representações da população 1% mais rica.
Felizmente isso muda com a entrada de novas personagens que orbitam – às vezes direta e às vezes só indiretamente – as vidas dessas três. Foi daí que me veio a sensação de que agora sim, há diversidade na diversidade que a série de alguma forma busca retratar.

Há dois homens trans (um deles gay) e uma mulher trans lésbica na série. Há mais mulheres negras e até uma coadjuvante que é cadeirante. E embora ela seja uma personagem orelha, qual foi a última série que tinha uma pessoa com deficiência que você viu? Pois é.
Sinto falta de mulheres gordas no elenco, mas acho que por hora dá para perdoar o “deslize”. Essa nova fase da série veio mais devagarzinho, com oito episódios, mais para sentir a temperatura, provavelmente. E deu tão certo que já tem segunda temporada confirmada. Apesar de que a pandemia provavelmente fará com que a exibição demore para acontecer.
Nesta retomada o enredo geral está bem mais amarrado e os episódios acabam com ganchos mais instigantes. Não falta ritmo, mas alguns conflitos são inspirados demais na estrutura folhetinesca. Pai de menina rica que não quer deixar a filha se envolver com a mulher pobre e de família não-tradicional.

O final da temporada então é uma atualização de clichê de comédia romântica e que funciona muito bem. Isso porque o roteiro da série como um todo está muito melhor elaborado e nada fica excessivo ou cansativo.
“The L Word” acerta ao retratar possibilidades de relacionamentos não exclusivamente monogâmicos, por exemplo, mas ao inserir o drama de traição como conflito, parece que discussões já feitas em temporadas anteriores nunca serão superadas. Estamos no ano da graça de 2020 e as tradições de uma lógica heteronormativa ainda é um peso.
Neste sentido e pensando na riqueza das protagonistas, “Eastsiders” era um pouquinho mais feliz em abordar como o neoliberalismo tem afetado nossas subjetividades e possibilidades de afeto e de nos relacionarmos. Reconheço que nem de longe essa parece ser uma crítica que “The L Word” está disposta a fazer a fundo.
No mais, é fofo quando a série retrata um casinho de primeiro amor na adolescência. E as cenas de pegação são muito boas. “The L Word – Generation Q” soube se atualizar, homenagear seu passado difícil e seguir em frente. Foi das melhores séries que vi no ano até agora e isso não é pouca coisa.
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