
Uma história sobre as perdas e a vida
Vanessa Barbara, vocês sabem, a gente ama. Eu estava bem ansioso para ler “Noites de Alface”, até que para compensar algumas chateações a Raíra deixou eu comprar o livro na época em que estava rolando a Bienal do Livro de São Paulo.
E daí que eu gostei. É divertido. Mas demorei um tiquinho pra engrenar na história, talvez afugentado pela sisudez de Otto, o protagonista desta trama tão singular.
Todo cheio de manias, Otto vive o dilema de ter que lidar com a morte de Ada, sua esposa com quem foi casado por muitos anos. Bem na dele, Otto vive isolado enquanto é meio que forçado a acompanhar a vida de seus vizinhos e outras figuras excêntricas da pequena cidade onde mora.
São paredes finas e barulhos altos. Latidos, o tec tec de uma máquina de escrever, um liquidificador, o carteiro que canta. Enquanto acompanhamos como Otto lida com isso, somos apresentados aos outros personagens, como Nico, um farmacêutico viciado em efeitos colaterais descritos nas bulas de remédios e o sr. Taniguchi, um veterano japonês da Segunda Guerra.
Cada personagem tem sua importância e as histórias de cada um são marcantes, criativas e ficam na cabeça. Juntas renderiam um filme.
“Noites de Alface” é bem peculiar. Vanessa escreve sobre coisas bem específicas e transforma a banalidade do cotidiano em literatura e entretenimento.
A saborosa história a princípio triste e engraçada com seus personagens todos cheio de manias se transforma num bem amarrado suspense e Vanessa conduz isso tudo muito bem.
Além de ficar com algumas situações martelando nas ideias por dias esse livro tem pelo menos dois efeitos colaterais: faz a gente querer tomar chá de alface. E dá muita vontade de comer couve flor à milanesa.
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