
Se você, como eu, gosta de assistir sessões da Mostra uma atrás da outra no Centro Cultural, com tempo pra tomar uma água e ir no banheiro rapidinho ou ir até a lojinha em frente comprar uns docinhos, o Mubi é a plataforma certa.
Com a incrível descoberta da gratuidade para estudantes, eu e Will decidimos explorar o catálogo de “filmes com cara de mostra”, como chamo carinhosamente, e particularmente sei que foi uma das melhores coisas que fizemos nos últimos tempos.
A estratégia adotada é sempre tentar assistir aos filmes que estão saindo de cartaz no dia, já que cada um fica disponível por 30 dias. A grata surpresa do mês de julho foi o filme “Malcolm X”, do Spike Lee, e é dele que venho falar.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a duração: 2h44m. Decidi encarar o desafio, mas de forma que não ficasse tão cansativo, até porque era bem uma semana em que eu estava com coisas de fim de semestre pra entregar e várias outras obrigações, e eu sabia que se colocasse pra assistir de uma vez provavelmente não iria dar conta de assistir com a atenção necessária. O plano, então, foi dividir em três episódios de mais ou menos uma hora de duração e ir intercalando com as outras coisas. Posso dizer que deu super certo, inclusive recomendo.
E, apesar de assustar de primeira, vale cada minuto. Um filme de ficção biográfica que acompanha a vida de um dos mais importantes ativistas que o mundo já conheceu. Conta sua história desde a infância pobre e a morte do pai pelas mãos de nacionalistas brancos, passa pelo trauma de ter a mãe internada em um sanatório e a adolescência sem muitas referências, até sua prisão e conversão ao islamismo, sua ascensão ao posto de braço direito de Elijah Muhammad, o líder da Nação do Islã, até seu assassinato em fevereiro de 1965.
Parece muita coisa, e é mesmo. Malcolm X, contemporâneo de Martin Luther King Jr., até hoje é uma referência quando se discute antirracismo, e é muito fácil constatar que, infelizmente, pouca coisa mudou depois de cinquenta e cinco anos de sua morte.

Lançado em 1992, é um filme impecável quando se trata da produção, como já é de se esperar em uma obra do Spike Lee. Denzel Washington no papel de Malcolm impressiona pela semelhança de gestos e entonação de voz, além da caracterização maravilhosa que faz com que a gente seja transportado pra dentro daquela multidão que absorve cada palavra que ele fala. Angela Bassett, que interpreta sua mulher, Betty, também está espetacular. O filme ainda conta com algumas cenas de arquivo, principalmente de discursos e aparições públicas de Malcolm.
Uma obra-prima do cinema, que não poderia apresentar melhor esse homem apaixonante e apaixonado pela causa, que levantou multidões, nunca abaixou a cabeça e decidiu se colocar na linha de frente contra as injustiças de seu país, mesmo sabendo que isso lhe custaria a vida.
Pesquisando sobre o filme depois, descobri que ele está no catálogo da Amazon Prime, então vale a pena aproveitar. Eu sou outra pessoa depois desse filme. Assistam.
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