
Comecei a assistir Criminal por dois motivos. O primeiro: queria assistir algo em alemão como forma de dar uma variada nas formas de estudo do idioma.
O segundo era David Tennant.
Achava que ele era um personagem recorrente, mas não. Ele faz uma participação no primeiro episódio do Reino Unido e trago essa informação aqui para tentar explicar um pouco a estrutura da série.
Eu achava que “Criminal” fosse uma série policial, mas não é exatamente isso. Ela tá mais para uma série de suspense ou de mistério.
Há quatro versões disponíveis até agora: Alemanha, Espanha, França e Reino Unido. O mais legal é que todas se passam no mesmo cenário – uma sala de interrogatório policial com aquele espelho falso e a sala contígua, de observação.

A estrutura narrativa é basicamente sempre a mesma. Cada país têm três episódios, com uma equipe de policiais/detetives/investigadores/interrogadores fixa. A cada episódio, uma pessoa é interrogada e um crime deve ser esclarecido.
Nem sempre temos todas as pistas, nem sempre os policiais as tem e isso é muito legal, porque a dramaturgia da série funciona como um jogo de mentiras e revelações que vão se desencadeando conforme os diálogos avançam.
Os grandes pontos da série ficam sendo mais os roteiros e as atuações, além de direção e edição, o que permite um barateamento de custos – sem perda de qualidade – e o formato de internacionalização da franquia.
E isso é muito legal, porque eu fiquei pensando muito como seria um “Criminal” Brasil, porque aqui o que não falta é material. Talvez nos falte uma polícia mais eficaz, moralmente mais ética, quiçá. Se bem que falta de ética não é exatamente um problema exclusivo das forças policiais. Há raízes culturais mais profundas que levam a isso.

Tergiversei demais porque outra coisa muito boa é que de alguma forma, cada país coloca em suas tramas um tanto de tempero local ao desenvolvimento das temporadas.
O primeiro episódio da Alemanha, por exemplo, trata de um crime que faz alusão ao período pós queda do Muro de Berlim. No primeiro episódio de Espanha há um exagero quase que tipicamente latino em determinada atuação, que remete tanto a Almodóvar como às telenovelas que herdaram da tradição hispânica essa coisa dos sentimentos mais aflorados e calientes.
Já a França, um país muito civilizado, os crimes que precisam ser descobertos me pareceram os mais leves, comparado aos demais títulos e episódios da franquia. Ao mesmo tempo, um dos crimes está indiretamente ligado aos atentados terroristas contra o Bataclan, enquanto a “crise migratória” é pano de fundo de um dos mistérios a serem solucionados no Reino Unido.
Outro ponto a se destacar também é que além dos crimes a serem elucidados, ou das confissões que se pressionam os criminosos a fazerem, há também as subtramas, envolvendo as equipes dos interrogatórios.
Traições, casos, afetos e desafetos, ganância e ambições, revoltas e insubordinações marcam a relações entre essas figuras “do bem” tornando esses personagens menos chapados e mais dimensionais, mais interessantes, digamos assim.

Daria para assistir temporadas maiores de cada um desses países ao mesmo tempo em que três episódios para cada um parecem-me uma boa pedida para quem só quer desfrutar de uma série que não exige tanto comprometimento.
Para finalizar, só deixo aqui que não há ordem preestabelecida de por qual país começar a assistir. Inclusive nem é necessário assistir aos quatros se esse não for seu estilo de série. Particularmente, gostei do percurso que fiz, mas que cada um se sinta livre para fazer o seu.
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