
É fácil entender porque Daniel Galera é o autor brasileiro mais hype prestigiado do momento. O cara é fera.
Ganhei “Barba Ensopada de Sangue” no final de março. Presente de amigo secreto. Minhas amigas e eu tiramos os papeis em dezembro, mas a entrega é sempre nos começo do ano. E dessa vez atrasou.
Li outras coisas antes e peguei o livro pra ler tem duas semanas. É o melhor que eu li no ano até agora. Poderia ficar horas aqui tecendo elogios e falando porque eu quero casar com o Galera mas eu vou tentar mais ou menos falar o que eu achei do livro.
Logo no primeiro capítulo você pega. Diálogos rápidos. Livro fácil de ler. Daí tem o lance da cachorra. Do pai. Do filho. Do suicídio e da história do avô, que vai nortear a trama até chegar num desfecho bizonho de louco, bom e pirado.
A história é envolvente e tão bem construída que te pega e você lê desembestado. Só quando cheguei na página 200 percebi que o protagonista não tem nome. O que não deixa de ser interessante uma vez que ele tem prosopagnosia (tive que olhar no google pra escrever isso), que vem a ser uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas.
Mais. É fácil se identificar com o personagem. Porque afinal ele é um cara comum que chega, senta numa cadeira num boteco e pede uma cerveja observando a conversa da mesa ao lado. Ou Sei lá, almoça e come demais. Fica com a barriga cheia e não faz mais nada o resto do dia. Fica ali só morrendo um pouco.
Todo mundo já passou por isso. É fácil saber como o personagem se sente. É fácil se colocar no lugar dele. Porque essas são sensações que conhecemos afinal de contas.
Não é nada parecido, mas “Barba Ensopada…” me lembrou um pouco “Pornopopéia”, que a gente adora também. Porque dá exatamente a mesma sensação de que estamos diante de literatura da boa.
Ao mesmo tempo que a linguagem é simples ela não deixa de ser profunda ao mesmo tempo. Alguns temas complexos como destino, livre-arbítrio e determinismo são tratados com a naturalidade ali de chegar no bar tranquilão.
O que faz da história e toda a narrativa bastante geniais e envolvente.
Tem talvez uma falhinha. Um diálogo do nosso protagonista anônimo nadador com a Jasmim, quando ela está lendo o blog. O trecho sobre a questão do mito e tal é bom, mas muito comprido para a fala de uma pessoa.
De resto “Barba Ensopada…” é tão bom que seu maior defeito é a vontade que dá de largar tudo e morar na ponta da praia. Talvez no meio do mato quiçá.
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