
Dois dos melhores episódios até agora, ‘The Race Card’ e ‘Marcia, Marcia, Marcia’, podem ser resumidos em uma palavra: discriminação.
Já sabíamos que a carta do preconceito racial seria muito usada durante o julgamento, justamente aproveitando a deixa da polícia racista, assim como vimos durante a preparação da defesa para o julgamento e na escolha do júri.
Um dos personagens mais difíceis de ler, na minha opinião, é o Cochran. Depois do flashback no começo do episódio, consigo gostar menos dele ainda. É difícil de entender como alguém que conhece de perto o que é ser vítima de racismo pode usar isso apenas pra ganhar um caso.
Não se trata de culpa ou inocência, mas sim de ganhar. Estamos no terreno onde a verdade não importa, o que importa é ganhar o júri com o apelo emocional, e isso a defesa tem de sobra nos discursos inflamados do Johnnie, inclusive contra o Darden, seu ex-colega de trabalho.
Apelo, aliás, que é descaradamente feito na visita do júri às cenas do crime. O.J. não era um líder da resistência negra, muito pelo contrário, sua casa é extremamente branca. E, sabendo disso, a força-tarefa da defesa redecora a casa dele toda com obras de arte africanas e fotos de crianças negras aleatórias. Cadê sentido? E supervisão? Eles apenas entram, trocam tudo de lugar e ok? Sério, essa atitude é muito ato desesperado e só mostra a falta de evidências a favor do réu. Inocentes não precisam de tanta defesa.
E é exatamente o oposto do que acontece com a Marcia. Que sofrido é ser uma mulher forte, não é mesmo? Engraçado que mais de vinte anos depois as coisas não evoluíram tanto quanto gostaríamos, ou quase nada, eu diria. Como a única mulher responsável pelo caso, ela é praticamente massacrada pela imprensa.
Primeiro começam os comentários sobre as suas roupas, sua aparência, pra depois a artilharia pesada ir contra sua vida familiar e a administração do tempo. E um dos perpetradores é exatamente quem? Johnnie Cochran. O “oprimido” vira opressor com uma facilidade muito grande. Ele, apesar de gritar aos quatro ventos como o povo sofre, faz parte da classe privilegiada, é famoso e rico, muito rico (já viram a casa dele?).
É horrível e totalmente desrespeitoso o tratamento que se dá à Marcia. E eu sofri junto com ela o episódio todo porque a gente sabe que não é fácil ser mulher numa sociedade machista.
Dois episódios, dois opostos. Um acusado tentando provar sua inocência e uma inocente sendo massacrada.
You go, Marcia!
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